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ENDLESS PLACE

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

GRACILIANO RAMOS E CLARICE LISPECTOR SÃO DESTAQUE NA BIENAL


Os dois ícones da literatura brasileira foram tema do Espaço Literário Ipiranga dessa segunda-feira.


Os 70 anos de Vidas Secas foram celebrados em uma palestra dada pelo doutor em literatura brasileira, jornalista, professor e apresentador do programa Entrelinhas da TV Cultura, Ivan Marques.

Para o jornalista, esse é um livro central e de grande importância na obra de Graciliano e na Literatura Nacional. “É uma história especial e inquestionável”.

Vidas Secas retrata a luta de pessoas que vivem no sertão nordestino e o sacrifício delas para sobreviver. O autor traz em seus personagens muito da alma nordestina e aborda a problemática da seca e da opressão social na região durante a década de 30.

O livro foi publicado a partir de contos escritos em jornais. “É uma obra em retalhos”, afirma Marques.

“O mais impressionante nesse romance nordestino é a visão crítica de Graciliano. Ele traça uma realidade brasileira diferente de outros autores da época. Não era romântico e nem queria mudar o mundo, suas linhas eram amargas”, conclui Marques.

Numa atmosfera de introspecção clariceana, a professora de literatura brasileira da USP Yudith Rosenbaum falou sobre as vicissitudes da criação literária da autora de A Paixão segundo GH. A estudiosa da obra de Clarice Lispector abriu a segunda sessão do dia falando sobre o surgimento da escritora no cenário das letras brasileiras, com o romance Perto do Coração Selvagem.

Num contexto regido por um time de escritores que se puseram a revelar um Brasil não conhecido, a autora surge com uma narrativa peculiar, inovando com seu romance de sondagem interior. “Ela aprofunda isso numa radicalidade que até então ninguém tinha feito”, lembra Yudith.

Monólogo interior, fluxo de consciência, a professora, em sua explanação, aponta que na criação da escritora tudo foge à lógica racional. Ao lembrar de uma de suas obras, a Uma aprendizagem ou o livro dos Prazeres, Yudith exemplifica essa característica pulsante na escrita de Clarice: “O romance começa com uma vírgula e termina com dois pontos, veja como a linguagem se sobressai mais que o enredo”, comenta.

Segundo a professora, a grande marca da autora de A Hora da Estrela é a sensação de não se habitar o mundo convencional. Em suas histórias, personagens aparentemente estáveis vivenciam experiências inéditas. De uma forma abrupta, num segundo, tudo muda: “Clarice adora acabar com as nossas certezas. E ela vai destruindo uma a uma. É a perda da estabilidade e da firmeza.”

Essa obra permeada por confrontos é marcada pela dualidade. Segundo Yudith, Clarice “transpõe pelos poros extremos”, num contexto em que o belo são justamente esses achados de linguagem que perfazem sua obra. Não por acaso, a professora fechou sua participação no espaço Literário Ipiranga com palavras da própria escritora: “Já que se há de escrever, que não se esmaguem com palavras o que há nas entrelinhas.”

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